O que pode responder o oráculo?
É comum que o oráculo seja uma alternativa em momentos de maior angústia ou aflição. Na antiguidade e também para povos mais próximos de práticas oraculares ancestrais, o oráculo é parte do cotidiano. Existe uma noção de relação entre nossa existência e o movimento do cosmos. Não há essa separação causada pela modernidade e o capitalismo, mas isso é papo pra outra reflexão. O ponto é: na maior parte das vezes, procuramos o oráculo em momentos de encruzilhada, indecisão, angústia e o oráculo justamente aparece como um norteador desses caminhos que parecem tão tortuosos.
No entanto, em minha experiência com oráculo, vejo uma dúvida sobre o que cabe ao oráculo, especialmente na astrologia. Percebo isso através das perguntas que recebo, muitas vezes com questões que não cabem aos símbolos responderem. Ou até cabe, mas não como resposta decisiva, mas como guia. E quais seriam essas questões? Aqui cito Epíteto, importante filósofo estoico, linha de pensamento fundamental pro pensamento teórico da astrologia:
“Certas coisas estão sob nosso poder, assim como outras não estão sob nosso poder. Em nosso poder estão a opinião, o impulso, o desejo, a aversão e, em uma palavra, tudo que nós próprios produzimos. Coisas que não estão em nosso poder incluem nosso corpo, nossas posses, nossa reputação, nosso status, e, em uma palavra tudo que nós próprios não produzimos.”
Gosto de ressaltar que astrologia é um oráculo um pouco seco. Ao menos ao meu ver. Astrologia mostra o destino de um evento ou alguém, ou seja: o que está dado. Como uma previsão do tempo: vai chover ou não. Fará sol ou ficará nublado. E ponto. Será que vamos gostar de chuva? Ou é melhor que faça sol? Tudo isso depende do contexto, e o contexto depende das expectativas do próprio sujeito. As vezes preferimos que chova. Em outro momento a chuva pode ser um infortúnio. Isso quem “controla”, ou seja, o que está em nosso poder, é da própria pessoa. Não podemos mudar a realidade material e concreta dos eventos. Até podemos, aliás, a depender da forma como encaramos este evento. A questão é: a previsão astrológica trará respostas sobre os eventos, como irão suceder, e não como um sujeito vai se sentir, lidar ou superar.
Claro que em alguns momentos é muito possível prever que alguém vai estar melhor ou pior, mas isso é uma suposição. Muitas vezes o cenário é tão bom ou tão ruim que é possível supor bem ou mal estar. Mas isso não é regra: já vi previsões ótimas para pessoas que estavam emocionalmente muito mal e o inverso também, pessoas que lidaram com maus eventos estando bem tranquilas.
Algo que oráculo me ensinou ao longo desses anos, é que pra além da consonância com a natureza, os astros e o seguir o próprio destino, algo que é bom cultivarmos é o próprio caráter, moral e, se possível, bem estar. E isso não significa uma aceitação resignada da realidade, pelo contrário: através do cultivo de si é possível ter forças de aceitar as coisas como são, mas também mudá-las quando necessário, como é o caso das desigualdades sociais, por exemplo. Pra mudar alguma desigualdade, é preciso admitir e aceitar que é uma realidade, não é mesmo?
Aceitar o próprio destino é aceitar a si mesme. Aliás, spoiler: destino não é algo por vir, algo que está pra chegar. O destino acontece agora neste exato momento. O destino sou eu. O destino é você.
Ao perguntar pro oráculo, já diria o de Delfos: conhece-te a ti mesmo. Nenhum oráculo te dirá quem você é. Apenas o que está no seu caminho.
Ai está a sua responsabilidade, ao saber dos seus caminhos, quem você será perante isso?